... de despedida, no meio de tanta gente, olhava para o céu para evitar olhar para as pessoas. Percebo nos olhos deles que há os mesmos sentimentos, será que escrevem? Será que se sentem agoniados de tantas tristezas, de tantas mágoas? Sei lá, por vezes abate-se sobre mim aquela vontade de fugir de todas as actividades que envolvam pessoas, que envolvam ter de olhar para pessoas, de sorrir para pessoas, sei lá de ter de esconder por detrás um sorriso uma vontade tão grande de chorar, de me lamentar, de perguntar, será que não se sente tristes? Arrependidos de alguma coisa como eu arrependido e aflito com tudo o que faço, com tudo o que tento fazer nas melhores das vontades, e tão fácil de criticar, de dizer está errado, e eu a pensar porque por vezes a vida surge assim, dura no final, dolorosa com as despedidas. Ontem houve uma festa de despedida e quando cheguei as pessoas que estavam não pareciam estar alegres, andavam por ali com um sorriso, com o sorriso amarelo que me doe tanto, e eu triste, dentro de mim desejoso de poder deixar aquele lugar, falei com este e com aquele, falei, bebi, comi, fui para casa e dormi e hoje a sensação mantêm-se, o virar da página tão próximo que não chega nunca, a ânsia de esperar por algo que já devia ter acontecido antes. Porquê esta relatividade, porque esta demora nas coisas que se arrastam e nos deixam desesperados, sinto-me triste há tanto tempo e apenas vai aumentando e aumentando.
domingo, 27 de novembro de 2011
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
É...
... tão simples opinar acerca de coisas que não nos afectam, coisas que vemos na vida dos outros que ainda não vimos na nossa. Emitir variações e alterações, rodar e inverter a cadeia temporal que cada um teve de seguir fazendo parecer que todas as decisões até então erradas, que poderiam ser melhores, mais bem pensadas.
Sinto-me assim, crítico, comentador, um verdadeiro esperto que opina sobre tudo e sobre todos, que vê sempre uma forma diferente para as coisas. Sinto-me assim e no entanto neste cruzamento só me apetece voltar para trás e refazer tudo até agora. Devia de conseguir ser mais coerente, mais decidido e escolher um caminho, não moer mais este sentimento em mim de que eu sei estar certo, que eu sei estar de acordo com o que eu sinto, e o que eu sinto é o que está certo porque não há mais ninguém que não eu em mim, neste corpo. Alguém me citou Hitler ontem, "cada pessoa um império, um líder" e apesar de saber qual as ramificações de tal frase, qual as intenções da pessoa que a proferiu, não posso de deixar de a adicionar ao meu pensamento, à lógica que hoje tento fazer de mim.
Cada pessoa um império, que deve ser liderado, e quem outro para o liderar senão a própria pessoa? Significa portanto que um líder de si próprio não pode nunca estar errado nas suas decisões pessoais pois quando as toma apenas irá causar vitórias ou derrotas pessoais, isto dando excepção a todas outras interacções humanas que não a de um individuo com a sua própria consciência e existência. Torna-se portanto imperativo demonstrar através da lógica disponível que os actos, as decisões tomadas nunca poderão ser erradas ou certas, são apenas decisões das quais, de uma forma consciente ou não, iremos ter de arcar com as futuras consequências e portanto estaremos novamente numa bifurcação decisiva onde olharemos para trás e nos arrependeremos de ter escolhido direita em vez de esquerda, mas por defeito da existência iremos dizer que foi errado, quando devíamos apenas dizer que foi uma decisão.
Aqui não existe Outono, existem duas estações que não mudam tanto, numa chove e o sol brilha, noutra não chove e não há sol. Olhando para o que vivi, sempre vi o Outono como um período mau, sempre o sofri um pouco, sempre me custou mais que o Verão ou o Inverno, sempre me pareceu mais hostil que a Primavera. Mas aqui não há disso, e no entanto, olhando para trás, eu sei que em mim algo do cair de folha outonal me vai fazendo murchar. Algo que eu sei que sempre irei ultrapassar, mas que a minha natureza raramente me deixa considerar como apenas mais uma decisão.
Sinto falta de fazer isto, de escrever. Sinto falta dos meus cadernos, das minhas páginas, dos meus livros, dos meus autocarros cheios de gente, das minhas roupas sem pretensão, da minha barba por fazer, do desleixo geral de quem apenas quer ser feliz sem olhar para invólucros. Sinto falta de ser criativo, sinto falta de ser o bruno e não o Bruno.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Escrevi...
... em inglês uma carta para uma entidade que eu não percebo bem, é um homem, é um conjunto de homens e mulheres, para quem escrevi eu essa carta? Diz em inglês, diz em inglês palavras que escrevi quando de cabeça a andar à roda, quando sentimentos em mim giravam como se sem rumo apenas conseguissem girar em torno de mim.
Dizia "demito-me" e ao dizer isso dizia que não só do meu emprego, do meu trabalho, mas também das minhas responsabilidades, dos meus problemas, da minha vida. E por vezes um demito-me deveria ser assim, de tudo, de ti, de mim, de todos, demito-me de ter de viver sem rumo como os meus sentimentos, demito-me de ter de viver para trabalhar, de ter de limpar os problemas de precipitados e corajosos, de irresponsáveis e egocêntricos. Acima de tudo gostava de me demitir dos meus próprios pensamentos, que me atormentam, me fazem sentir culpado a cada dia que regresso a casa, a cada manhã em que acordo e penso nas milhares de coisas que podia fazer melhor, e no entanto não consigo, porque nunca bom o suficiente.
Desde que a escrevi, a vejo ali bem em frente de mim, me apetece imprimi-la, colocar-lhe uma data, assina-la e entrega-la à minha mulher, ao meu chefe, aos meus pais, aos meus amigos, pedir-lhes que compreendam que eu um solitário, um isolado, um eremita que quer carinhos mas que não os suporta, que quer orientação mas não a aceita, que quer saber onde estão as suas raízes e só sonha com ir ainda mais longe.
Só após nos demitir-mos de toda a responsabilidade, de todas as pessoas podemos de facto partir de olhos e peito abertos, prontos a aceitar a cada passo as milhares de formas diferentes com que a vida nos faria tropeçar.
Mas as pessoas ainda me são demasiado importantes, talvez comece pelo trabalho...
sábado, 3 de setembro de 2011
Podia...
...ser sempre menos vazio o copo de onde bebemos a nossa vida quotidiana, menos desprovido de enfeitos e cores, podia ser um copo lindo e brilhante como uma bebida boa e revigorante que nos deixasse fortes e cheios de confiança para enfrentar o dia seguinte e beber mais desse maravilhoso líquido, mas há dias, há meses, há anos, há por vezes vidas que nos deixam sempre com o sabor de ser vida pela metade. Sinto falta dos dias em que na minha mente corriam ideias e histórias e vontade de explorar. Foi ontem que cheguei aqui, e esse ontem foi há dois anos, e eu de lá para cá assumi tanto mais na minha vida, tantas mais responsabilidades que pelo que parece acabaram por soterrar a minha alma impulsiva e desejosa. Que pelos vistos me deixaram sem os mesmo escrupulos e me deixam, parece, alheado ao meu redor, à minha vida, até ao que os meus amigos e colegas me dizem. Dou comigo a ler, ouvir, falar coisas das quais não me interesso, das quais não me fazem doer.
Tenho saudades de sofrer, não de preocupações, não de trabalhos e de complicações de trabalho, da alma, faz-me falta de saber-me abandonado, de saber-me posto de lado. Faz-me falta perder o amor para poder ganhar a minha verdadeira alma. Sou bom, sei que sou bom, que devia abraçar esta fertilidade que sinto nas palavras, mas sou incoerente, inconstante, falta-me o método, falta-me a vontade de uma paixão não correspondida. Parece injusto estar a dizer isto, tão simples é a escrita de alguém que fala apenas para si, parece injusto concluir que é na instabilidade psicológica que encontro o meu verdadeiro ser. Tenho medo de um dia me sentir seco, me sentir demasiado simples. Nunca deveriam ser simples as palavras de quem escreve com a sua voz mental, nunca porque a nossa voz mental composta de negações que se negam como eu não nego que sou infeliz ou insatisfeito. Como eu que por vezes me falta a vontade de gritar quando antes nada mais que gritos presos na minha garganta.
Parece que hoje escrevi o meu testamento, deve ser a minha primeira depressão alegre.
sábado, 6 de agosto de 2011
São...
... dias assim, ou nem dias, horas, momentos, minutos assim, em que falamos falamos só para que não falemos sobre o que queremos falar, em que o assunto por vezes se acerca de nós e dele fugimos como se ardesse, como se magoasse mais ainda do que magoa. são nessas pequenas e indiscritíveis horas que eu sinto em mim dores que por vezes não são minhas, são de quem fala comigo e eu não consigo evitar de julgar minhas. Fotografia de uma cara bonita, um cabelo liso e preto brilhante, uma pele bronzeada, e eu de repente apaixonado por um sorriso, uma parvoíce da minha cabeça, um "caramba" interior, e aquela voz em frente de mim que continuava a falar de trabalho, da forma como o equipamento não estava dimensionado para as necessidades da obra, da forma como as pessoas não gostavam de dobrar a espinha dorsal para se esforçar um pouco mais no seu trabalho, e dentro de mim não andava lágrimas, andava revoltas, andavam duvidas, andavam dores de "e se eu o que fala e não o que ouve?", como consolar o que é inconsolável? como manter a nossa alma e a nossa mente limpa dessa dor que não nos pertence e no entanto parece nossa porque um dia o telefone toca e do outro lado a notícia é a mesma porque inevitável a má notícia, porque inevitável o dia em que chegará o dia para aqueles que amamos e que haverão alguns de partir antes de nós. E o que fazer se antes de nós partirem todos os que achamos amar? Teremos nessa altura o direito de elouquecer com o que o mundo nos fez? Teremos nessa altura o direito e o perdão divino para tirar a nossa própria vida? Perguntei-em tanto esta tarde "o que fazer quando os que amamos vão antes de nós?" e não encontrei hoje outra resposta senão o vazio da minha mente, a fome incontrolável de nervos no meu estômago, a alheia sensação de passar pelas dores, e das dores apenas sentir a sombra, querer sentir o ferro em brasa em mim quando não ainda a minha altura, querer neste desejo mórbido de auto destruição sentir o que os outros sentem quando querem chorar.
olhar para uns olhos raiados de vermelho, perceber a quantidade de dores e de planos destruidos por detrás deles, perceber que o refugío é o alcool, é o afastamento, e pensar em mim tão longe de tudo, e pensar em mim tão longe de chegar se algo acontece aqueles que amo, e dos quais a minha vida deixa de fazer sentido se um carro, se um acidente, se um acaso de vida os leva.
olhar para uns olhos raiados de vermelho, perceber a quantidade de dores e de planos destruidos por detrás deles, perceber que o refugío é o alcool, é o afastamento, e pensar em mim tão longe de tudo, e pensar em mim tão longe de chegar se algo acontece aqueles que amo, e dos quais a minha vida deixa de fazer sentido se um carro, se um acidente, se um acaso de vida os leva.
domingo, 8 de maio de 2011
Marcas...
... profundas como desfiladeiros, longas como rios. Marcas absolutamente torturantes que parecem nunca lá estar e depressa se manifestam. Um desvio, uma curva à esquerda que devia ter sido para a direita e as imagens, as ideias, as dores do acontecimento, o ressurgir de uma cicatriz que se pensava curada e já sem expressão.
Lembro o dia, lembro a noite, lembro tudo, lembro nada da forma como foi e julgo não ter sido, da forma como deveria ter sido. Lembro que havia um sol, ou uma lua, havia um carro, ou talvez a pé, lembro que talvez eu apenas no meio de lado nenhum a olhar um mar ou um monte ou uma parede. Lembro-me de como será a vida depois de ti, ou depois de mim, lembro-me de quando era velho e me sentava no banco em frente de nossa casa com a sombra das paredes brancas a trazer-me o sono. Lembro-me de como sorrateiramente sentia a dormência nos pés, nas pernas depois nas mãos e ela subia até ao meu coração, de como o meu peito deixou de ser encher e de como o sonho invadiu o meu dia. Lembro-me de quando me dizias para por o chapéu porque hoje muito sol, e que não queres que eu fique doente porque depois uma carga de trabalhos. Lembro-me de como me batias porque não conseguia já mexer-me e tu precisavas de lavar a casa, limpar a sala onde uma televisão demasiado alta emitia palavras que há muito deixamos de ouvir. Lembro-me da tua beleza a desaparecer de dia para dia, dos teus cabelos sem a vida de outrora. Lembro-me de como um dia te vi, e te reconheci e te amei, lembro-me de toda a felicidade que me deste, lembro-me da cara sem expressão quando te sentaste para almoçar comigo, preocupada com a reforma que não chegava e ela no correio desde ontem, não a tirei ainda lá está, preocupada com o telhado que está partido, com a filha que não visita, com o filho que não arranja emprego. Lembro-me de mim alheio a tudo isto porque eu nunca de me preocupar com o destino, porque traçado. Lembro-me da ultima vez que te vi meu amor em que a tua cara serena sem preocupação, o teu cabelo branco que ainda mantinha o ondular, lembro-me da ultima vez que te vi meu amor e as mil marcas no meu corpo, resultado de torturas sem limite de uma vida passada, todas elas unidas em dor me fizeram sair dos olhos lágrimas para justificar a tua ausência.
domingo, 1 de maio de 2011
Maio...
...chegou, apareceu esta manhã com um sol forte, um céu azul, uma cidade tranquila, pessoas que foram para a praia, pessoas que foram para onde não mais precisam de pensar no trabalho durante umas horas. Felizes, tristes, sei lá, tantas vezes vejo em caras desconhecidas os meus próprios tremores e preocupações que enquanto escrevo penso que me sinto cansado dos problemas dos outros, meus no entanto, colocados na cara de quem passa pela minha imaginação. Foram longos os dias desde que cheguei, são longos os dias que ainda faltam para a minha casa, para que me afaste novamente daqui. Aprendi a não detestar, a não gostar, a não querer aqui estar de outra forma, a raiva a angustia mudou para uma serenidade, para um aguardar calmo da mudança e da novidade. Os problemas do trabalho deixa-me com preocupações, deixa-me aflito, deixa-me irrequieto. Mas sou apenas um, que tenta o seu melhor para ser melhor, talvez a recompensa seja mesmo essa, poder lutar pelas coisas melhores que podemos ter. Dizia-lhe hoje que a nossa vida nos deu tranquilidade, nos deu segurança, nos permitiu viver em vez de sobreviver como tantos fazem. Dizia-lhe hoje que a nossa vida no entanto tirou-nos um do outro, deixou-nos longe. Não deveria viver assim, sou um sonhador rendido à necessidade de possuir bens. Enquanto assim o for, serei incompleto e infeliz, talvez seja assim que tenhamos de viver, quem sabe.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Certos...
...dias dentro de mim surge e cresce e acresce ao que já existe um grito tão longo e tão alto e tão tão inexplicavelmente aflitivo que olho em redor e penso acerca de mim e dos meus e dos que me cercam e julgo apenas poder fugir se ganhar asas e levantar voo.
Por vezes o tédio surge para nos dizer que as coisas não estão bem e está na altura de mudar de coisas, por vezes a falta de ar que sim não é devido a mim mas ao que deixo que de mim julguem e imaginem. Desde que regressei a Angola que me interrogo acerca do que é certo e do que é errado novamente. Interrogo se é certo desejar fugir, se é errado dizer o que digo, às pessoas que digo. No meio desta gente toda vejo sorrisos por vezes, vejo alegrias por vezes, e por detrás de alguns sorrisos vejo felicidade, vejo amor. E que fazer quando não se consegue esquecer um sorriso? Quando não se consegue esquecer uma voz, uns olhos brilhantes, um cabelo encaracolado?
Que fazer quando se ama, e julga amar e não se luta para que se estar com esse amor. Por vezes ainda pior, o que se faz quando se ama e se julga amar e quem se ama parece não ser a pessoa certa? São episódios, são lutas, são sorrisos que nos enganam, são sorrisos que nos deixam pendurados, e eu vi um sorriso que me deixou intranquilo, irrequieto, e depois vi outro que me fez o mesmo, e não consigo esquecer nenhum deles.
domingo, 3 de abril de 2011
Eu...
...regresso sempre, cada dia, regresso sempre a casa, cada semana regresso sempre ao descanso, cada mês regresso sempre ao meu ordenado, e por vezes regresso à casa verdadeira, regresso a ti.
Enquanto não o faço sinto o vazio que me vai preocupando porque cada vez parece menos vazio e mais normal não te ter. Sinto falta de ver o teu sorriso e apenas uns dias entre nós. Sinto vontade de descobrir a vida mas a vida sem ti não tem o mesmo interesse para descobrir. Penso como seria se não tu e alguém que não tu a descobrir comigo o que quero descobrir. Penso como seria se te tivesse dito não em vez de te ter dito sim, de te ter aceitado na minha vida quase sem condições, quase como se inevitável. Passamos um mês, passamos uns dias, e eu sinto a falta a tua. Eu sinto a falta de nós, e palavras tontas saem de minha cabeça por as sentir.
Enquanto não o faço sinto o vazio que me vai preocupando porque cada vez parece menos vazio e mais normal não te ter. Sinto falta de ver o teu sorriso e apenas uns dias entre nós. Sinto vontade de descobrir a vida mas a vida sem ti não tem o mesmo interesse para descobrir. Penso como seria se não tu e alguém que não tu a descobrir comigo o que quero descobrir. Penso como seria se te tivesse dito não em vez de te ter dito sim, de te ter aceitado na minha vida quase sem condições, quase como se inevitável. Passamos um mês, passamos uns dias, e eu sinto a falta a tua. Eu sinto a falta de nós, e palavras tontas saem de minha cabeça por as sentir.
quinta-feira, 3 de março de 2011
Na sala...
... o meu chefe canta karaoke sozinho, chegou hoje depois de uma semana na África do Sul, Sweet Child of Mine, já lá estive, Superman, Creep, desisti e vim para aqui escrever. No quarto junto do meu um alemão vindo a parte leste da alemanha no outro quarto um exemplar diferente da mesma espécie. algures do outro lado do quintal um turco com duas mulheres, uma na alemanha e outra no egipto. Eu no meu quarto sinto o peso de um dia cheio de vazios mentais, cheios de respostas que não existem, e as que existem não são aceitáveis, não são agradáveis. Na obra pouco ou nada se fez hoje excepto discutir em salas de reunião. No poço de escavação as pessoas parecem alheadas ao que fazer, parecem distantes e longe daquilo que devia ser o foco, parecem que não percebem os sinais, os gestos que lhes faço. Nos meus ombros o peso acumula, e acumula, e torna-se cansaço e sono e desespero e depois vem aquela sensação de disparate. Telefonemas que duram uma hora em que as pessoas tentam aproveitar-se daquilo que não podem ter, daquilo que não deviam ter. Não consigo, eu tento mas não consigo ser cínico o suficiente para olhar alguém nos olhos e dizer a culpa não é minha, a culpa é tua, e todos os dias a quase todas as horas sinto-me assim, pesado nos ombros, debaixo de um fardo tão grande que não me consigo mover, o meu cérebro pára, a minha inteligência, se alguma ainda, vai embora, e eu sinto-me como uma bola de ping-pong atirada de um lado ao outro. E eu sinto que tudo isto tão próximo de terminar, que o meu avião quase ai, que a minha mala a ser feita já daqui a 24 horas, e eu a sentir que a noite tão curta de sono, que sempre parece tão bem dormida e o tão bem dormido tão diferente do longamente dormida, e eu tão aflito quando não tenho respostas, quando apenas tenho de dar a cara por algo que não resulta, quando as pessoas não tem coragem para perder um cliente, para dizer, acabou-se, já perdemos demasiado dinheiro aqui. Quando o nosso director geral nos olha de frente, nos sorri e apenas diz: "tens uma obra de merda, tiveste azar" de repente sinto-me como um privilegiado, como aquele que ganhou a sorte grande para ser enterrado no meio daquilo que a obra é, e estou tão próximo desse limite meu Deus, se ao menos pudesse esquecer que amanhã tenho de trabalhar, e apenas fazer a mala, dormir, fazer a mala e dormir, e esperar no lounge pelo avião que não chega, e quando chega esperar sentado na cadeira que as portas se fechem e nunca mais se fecham, e quando se fecham eu tão aliviado, o meu telefone não vai tocar, ninguém me virá dizer que precisa de umas luvas, que precisa de um capacete, umas botas, dizer que tudo em Angola uma porcaria, se é porque insistes em voltar? talvez porque os euros de Angola dobrados e triplicados dos euros na Alemanha hein? se calhar um dia digo-te, se calhar não porque não voltas e eu arranjei forma de não voltares. Se calhar eu mereço porque maquino e engendro nos bastidores algumas vezes. Se calhar eu falso quando preciso, e quando preciso eu mais falso que todos juntos. Talvez sejam detestáveis pessoas falsas, talvez eu detestável, quem me dera poder dormir sossegado com a minha mente tranquila. Quem me dera não ter de pensar que tudo na minha vida resultado das mentiras do que parece ser o meu trabalho. Quem me dera um dia ter a coragem para fugir, e mais não voltar.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Hoje...
... deambulava pelo facebook e vi uma cara conhecida, uma moça que durante um tempo da minha vida achei bonita, ainda o é, mas que sentia vontade de convidar para sair, nunca o fiz, lembro-me que tinha uma pele branca muito branca, um cabelo louro liso pelos ombros e o que realmente me fascinava nela era a forma como a franja lhe caia pela cara deixando-a absolutamente adorável. Como dizia nunca a convidei para sair, nunca sequer falamos sem ser obrigado e bom dia e tem troco? Ela trabalhava num supermercado como caixa, pelos vistos ainda o faz, e hoje por acidente, por acaso apareceu uma foto na minha frente que eu reconheci, da qual não me lembrava já e cliquei no perfil, abri a informação e descobri que ela está numa relação com Bruno Henriques. Diabo pensei, chamo-me Bruno Henriques da Luz, podia ser eu... maravilhosas coincidências que a vida nos faz ver sem que nunca nos apercebamos delas. Será que ela alguma vez na vida saberá que antes deste Bruno houve outro que viu nela o encanto? Será que nós alguma vez saberemos quem de nós vê o encanto? Saberemos nós a que estamos destinados? Um nome?
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Caminhava...
... a teu lado, por fora a minha mão na tua e nós seguindo por um caminho estranho de terra e folhas em que os espinhos pareciam atrair-se da nossa pele e nela deixavam rasgos. Havia um buraco, uma instabilidade dentro de mim que balouçava conforme balança a água do tanque da casa dos meus pais depois de nela saltarmos, saindo do seu limite.
Causava-me arrepios estar a teu lado, a felicidade misturada com a inquietação de não te saber, se feliz se alegre se contente, se eu na tua mente como tu na minha. Mentiras que insistia em dizer-me antes de dormir, durante o sono, durante o dia, a necessidade de dizer que te amo quando de facto não tu nem ninguém o meu amor. Não percebo o amor, nem como se sente, nem quando se sente. Percebo a solidão, percebo um prato na mesa da cozinha, ou na do restaurante. Percebo um lugar vazio ao meu lado no carro, no cinema. Talvez isso amor, perceber que a solidão mais forte que gostar de alguém, mais forte dizer que amor é o que se sente quando se sente a necessidade de uma companhia. Que és tu, podia ser outra qualquer, não interessava muito se bonita ou feia. Não interessava nada se a minha boca na tua pele, e a tua pele na minha, se o meu sexo no teu, não interessava nada se nessa altura eu sozinho novamente de olhos fechados a olhar uma paisagem, o mar ou um vale, o céu ou um rio, interessava a minha ausência de ti, para poder por um momento retomar a minha solidão e voltar a tua companhia ou a de qualquer outra e sentir-me seguro de mim.
E a pele novamente rasgada pelos espinhos da vegetação na berma da estrada, e eu novamente sozinho porque tu um pouco mais atrás. Na minha mente as nossas mãos ainda juntas, na minha mente tu sorrindo ao meu lado sem parar por uma meia presa nos espinhos. E na minha mente não eu olhando para trás percebendo que te fazia infeliz.
nota do autor: escreveria sobre o amor feliz se o encontrasse em mim, se o visse em mim, sobre a beleza da felicidade partilhada, mas apenas consigo ver felicidade quebrada por distâncias, por incompatibilidades. cada vez mais me julgo apaixonado por uma pessoa ideal, da qual não consigo ver erro porque neste momento essa pessoa apenas existe em letras, em sons, em imagens distantes, talvez por isso o meu cérebro dê voltas, e se canse de dar voltas, e se sinta exausto de dar voltas para sobreviver intacto ao amor, à falta de amor, ou à ausência do amor, que por vezes parece tão só solidão.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Uma porta...
...aberta, do outro lado luz, demasiada luz para que se conseguisse ver a banal parede de branco amarelado pela idade. Sentado na cadeira contemplava o que fazer com um pedaço de terra que ainda ia existindo no quintal. Solenemente irritado abanava a cabeça como se algo preso no seu interior, como se de lá não quisesse sair. A confusão instalara-se no momento em que tinha acordado e agora com a luz no seu auge apenas se sentia limitado no horizonte, não na estranheza e na clareza do pensamento que tentava sacudir para fora do crânio. Tinha suportado demasiado já de o que quer que seja para continuar a poder levantar-se, para poder novamente enfrentar o mundo lá fora, talvez uma aversão da luz forte de um sol tropical de meios dias tórridos e infinitamente lentos. Recordava o brilhante de umas escadas, o tom bonito da pele das pessoas que passavam por ele nesse dia em que viu o mais banal par de olhos castanhos que alguma vez poderia ter imaginado. E nesse dia em que apenas uns cabelos pretos como tantos outros por ai espalhados. Tinha saído cedo do trabalho, cruzado a rua, olhando para trás um homem num terraço a 3 ou 4 andares do chão, uma distância enorme para lhe distinguir as feições, pele morena, pele castanha de vendedor de bugigangas e relógios falsos, de encantador de serpentes e de revolucionários pacíficos, acenava com o braço direito levantado, acenava como se numa ilha deserta e o homem na rua o único meio de o salvar. Não sabia quem era, nunca o tinha visto e portanto do outro lado da rua o seu olhar desviou-se novamente para o caminho irregular do passeio, evitando pedras de calçada soltas, crianças que corriam e brincavam pela rua, adolescentes que tentavam vender cigarros aos estrangeiros, ele próprio um estrangeiro debaixo de um sol de fazendas de café e plantações de algodão. O cheiro inconfundível de água estagnada por todo lado, e a imaginação corria sempre para como teria sido quando esta rua ladeada de cadáveres mortos pela fome e pela escassez, quando apenas os cães por aqui brincavam, quando apenas a morte aqui vendia. Uma rápida e mórbida imagem da se livra em dois passos entrega-o para a rua em cruzamento à direita e a selva praguejada por mosquitos, o som das pássaros a desaparecer a cada passo, a cada estalar de ramo, o da frente a gritar emboscada, a metralhadora a abrir fogo e o da frente já sem gritar, apenas a abrir os braços para o céu e a permitir que o seu corpo estremeça a cada novo tiro, e eles no chão, procurando no chão um inimigo imaginário, nunca se apercebendo que o inimigo eles, que quem atirava em si próprio era o da frente, e que a granada não lançada para o meio da companhia, deixada cair pelo cabo, a visão de si enrolado num cobertor ouvindo os morteiros, ouvindo o zumbir de beija-flor dos helicópteros levantando apenas para se virarem e matarem toda a gente. O pensamento fê-lo suar de medo, entrou pela porta de um edifício com um ar importante e subiu as escadas, no topo entre tantos olhos aqueles banais olhos castanhos, aquele banal cabelo preto sem qualquer fantasia, sem qualquer novidade sorriram, apertou-lhe a mão, vinha para estar com ela, mal se conheciam, mal se tinham falado, mas por imposição das circunstâncias, ela ali com ele. Tinha-a conhecido anos antes num pequeno encontro de trabalho, tinha regressado agora para ficar. Depois de terminada a ocasião, entraram ambos para o carro dela e seguiram para casa, disse-lhe vamos, levo-te a casa, já é tarde. Ele acedeu, entrou e sentou-se no lugar do passageiro, passaram pela rua da guerra, pela rua dos cadáveres, passaram em frente do mar e uma lua grande reflectida na água fez com que lhe pedisse para parar o carro junto da areia, os dois sentados lado a lado a olhar uma água escura cortada pela prata brilhante do luar deixou-os calmos, ela perguntou-lhe acerca do dia, e ele respondeu-lhe que banal, ela respondeu-lhe acerca da ocasião onde os dois juntos e ele respondeu-lhe que sim. Sem compreender esqueceu-se de como se falava com alguém e deixou-se olhar para a paisagem. Odeio-te disse-lhe enquanto lhe colocava as mãos em volta do pescoço, detesto essa tua banalidade.
Neste momento a luz lá fora ainda mais forte, quase só branco, a porta que teimava em ficar aberta, que permanecia aberta desde a noite anterior evitava que se visse o branco amarelado pela idade da parede em frente, quase que lhe impedia de abrir os olhos, quase que o impedia de ver um homem sentado numa cadeira como se o observasse do alto, e o homem que não lhe respondia ao aceno virava a face para o outro lado, o seu ombro direito descaindo arrastou o resto do corpo para o chão como se de uma âncora. A luz forte do sol tórrido impedia que o vermelho em seu redor se deixasse ver, confundia-se com tudo, impedia-o de se ver ao longe como um pássaro deve ver os homens, como devia ver os mortos na rua, ou no mato, ou nesta casa.
ficção
O Por do Sol...
...de hoje dizia-me que não lhe sinto nada. É-me indiferente ver um sol a cair para um mar ou para um terra, talvez porque a insensibilidade do meu corpo comece a aparecer. A minha mente não mais disponível para coisas bonitas e maravilhosas ao mesmo tempo que no meu telefone uma voz aflita me pede para o ajudar que não quer perder a família e sair de onde está.
Lá fora vozes estranhas falam sobre estranhas coisas em línguas estranhas e eu escondido de tudo isto sonho com o dia em que sai do trabalho e os tons de dourado e laranja, quem sabe de um por do sol como o de hoje, me empurraram para o meu carro, para minha casa, e enquanto a noite caia me levaram para a rua, me fizeram subir escadas, descer escadas, caminhar pela estrada, deambular até ter perdido a vista do que queria.
Talvez não deva culpar um astro rei, tão distante, tão amarelo pelas loucuras da minha cabeça, mas naquele dia alguém deveria ser culpado por alguma coisa e a minha cabeça sempre procurando dar a mim mesmo mais da culpa do que o corpo de facto merece. O corpo junto do meu agoniava-me, dava-me vómitos olhar e portanto a parede branca, o horror enquanto os corpos se mexiam, enquanto lá fora quase de madrugada e eu sem saber porque me dispunha a tal facto. O alívio quando tudo de facto terminado. E eu, descalço, largando o carro, as chaves de casa, tudo onde alguém quando me der pela falta possa encontrar, começando a andar pela rua onde vivo, sem ligar aos vidros que a povoam, andando pelas estradas de alcatrão até ao mar, olhando para ele na busca dos laranjas e amarelos e cores que me recuso a compreender a deixar que me enterneçam. Cores que nunca no meu coração, porque pedra, e cores que nunca contigo porque nunca as consegui assimilar, cores que não existiam já portanto, de ontem, mortas, e eu caminhando caminhando, passando pelo porto de cargas, pelo porto de pescas a caminho do norte, os meus pés em sangue, os meus pés dormentes já sem dor e eu caminhando caminhando, chegando ao cruzamento que existe na direita, passando entre cães vadios que vasculham o lixo procurando restos que não existem porque os restos alguém já os levou, apenas lixo de plástico lixo de papel, lixo de lixo que as pessoas não querem e os cães não comem, um berro de criança no meio da escuridão alaranjada pelas luzes do porto, dos petroleiros carregando líquidos negros para dentro das suas enormes barrigas sedentas. E eu batendo numa porta da qual desconheço já o local, eu desejando que a porta aberta, desejando que pudesse esquecer o vómito e a agonia do corpo na minha cama, da dor no meu sexo quando não mais se conseguiu suster, e apenas me deitar no mesmo cartão que tu, te abraçar devagar e dizer que se alguma vez poderei ser feliz, será o dia em que compreenda um por do sol, que ele me fascine, até lá eu enterrado no desperdício de uma vida vazia, no meio do lixo, no meio da miséria doente e putrefacta de quem não pode ou não quer mais do que têm, como eu tenho e não ambiciono, como eu tinha e não queria.
ficção
domingo, 30 de janeiro de 2011
Isolado...
...no meio de multidões, sozinho entre gente e gente que vai andando, dançando, bebendo, rindo, se beijando, e eu sozinho, não porque ninguém comigo, eu sozinho porque a minha cabeça sozinha, fechada nela e nos problemas dela. Nas confusões e nos disparates da existência insatisfeita, da necessidade de alegria, de felicidade. Hoje visitaram-me as lágrimas, ontem visitou-me a solidão, hoje o isolamento antes das lágrimas, o que virá amanhã para me inquietar ainda mais?
A tua voz suave falava para mim e a minha tremeu, tremeu, o adeus que a minha boca articulou já sem qualquer som que o acompanhasse e do outro lado não cheguei a ouvir a linha a ser cortada, a imagem de ti a encolher os ombros do outro lado a deixar-me triste triste. Não que o fizesses, mas foi essa a imagem que ficou de ti na minha cabeça, e nos olhos algo mais, tremores que não queriam parar na barriga, e eu a encolher-me, a ficar mais pequeno mais pequeno, eu a querer fugir para debaixo da cama de forma a me sentir seguro, protegido sabendo que ali debaixo me demorariam a encontrar, que quando o fizessem já eu recuperado, já eu mentalizado que tenho de estar longe outra vez, que tenho de voltar a sofrer novamente todas as angustias de saudade e separação, todas as duvidas da validade do pensamento que me faz regressar. Acerca da falta de imaginação que me faz amar aquilo que tenho e não querer nunca largar.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Por...
...vezes tenho a sensação de querer dizer algo e não ter as palavras certas para começar o que quero exprimir. Hoje é um desses dias, abro o meu blog, escrevo para uma pessoa parece-me ali pela quantidade de seguidores e nunca me senti necessitado de o fazer para mais que uma. Toda a minha vida me escrevi as cartas que ninguém alguma vez me escreveu, aparte talvez do "se queres saber como te amo multiplica as gotas do mar pelas estrelas do céu" que uma namorada da adolescência me deu e que ainda hoje guardo, algures numa gaveta, num quarto que visito agora vezes de menos. Era tão parola essa moça, escrevia coisas copiadas de revistas porque não sabia o que gostava, nem se gostava de mim, um dia veio ter comigo e disse-me que não podíamos namorar mais porque a mãe dela lhe tinha dado um sermão, eu encolhi os ombros e disse "tá bem" e regressei ao jogo de bola que me interessava muito mais que beijos e apalpões que me deixavam atrapalhado, que me provocavam embaraços fisionómicos. Não sei porquê ela veio hoje ao meu pensamento, partilhávamos o mesmo nome, eu o obscuro, o castanho, ela a obscura, a castanha. Irónico não é? Como por vezes se olha para trás e as coisas mais efémeras regressam envoltas no sentimento de perda.
Sinto que ainda tenho a primeira palavra aqui presa, preparada para sair e não quer, há algo que quero dizer, sim há, algo lá dentro se enrola, sinto uma crescente inclinação para o esquecimento, para o alheamento das principais coisas, e digo palavras que me soam a mentiras descaradas e apesar de raramente o serem, elas soam falsas e traiçoeiras.
Sinto que a escrita não me quer dizer nada hoje, outro dia talvez.
Sinto que ainda tenho a primeira palavra aqui presa, preparada para sair e não quer, há algo que quero dizer, sim há, algo lá dentro se enrola, sinto uma crescente inclinação para o esquecimento, para o alheamento das principais coisas, e digo palavras que me soam a mentiras descaradas e apesar de raramente o serem, elas soam falsas e traiçoeiras.
Sinto que a escrita não me quer dizer nada hoje, outro dia talvez.
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