sábado, 3 de setembro de 2011

Podia...

...ser sempre menos vazio o copo de onde bebemos a nossa vida quotidiana, menos desprovido de enfeitos e cores, podia ser um copo lindo e brilhante como uma bebida boa e revigorante que nos deixasse fortes e cheios de confiança para enfrentar o dia seguinte e beber mais desse maravilhoso líquido, mas há dias, há meses, há anos, há por vezes vidas que nos deixam sempre com o sabor de ser vida pela metade. Sinto falta dos dias em que na minha mente corriam ideias e histórias e vontade de explorar. Foi ontem que cheguei aqui, e esse ontem foi há dois anos, e eu de lá para cá assumi tanto mais na minha vida, tantas mais responsabilidades que pelo que parece acabaram por soterrar a minha alma impulsiva e desejosa. Que pelos vistos me deixaram sem os mesmo escrupulos e me deixam, parece, alheado ao meu redor, à minha vida, até ao que os meus amigos e colegas me dizem. Dou comigo a ler, ouvir, falar coisas das quais não me interesso, das quais não me fazem doer.
Tenho saudades de sofrer, não de preocupações, não de trabalhos e de complicações de trabalho, da alma, faz-me falta de saber-me abandonado, de saber-me posto de lado. Faz-me falta perder o amor para poder ganhar a minha verdadeira alma. Sou bom, sei que sou bom, que devia abraçar esta fertilidade que sinto nas palavras, mas sou incoerente, inconstante, falta-me o método, falta-me a vontade de uma paixão não correspondida. Parece injusto estar a dizer isto, tão simples é a escrita de alguém que fala apenas para si, parece injusto concluir que é na instabilidade psicológica que encontro o meu verdadeiro ser. Tenho medo de um dia me sentir seco, me sentir demasiado simples. Nunca deveriam ser simples as palavras de quem escreve com a sua voz mental, nunca porque a nossa voz mental composta de negações que se negam como eu não nego que sou infeliz ou insatisfeito. Como eu que por vezes me falta a vontade de gritar quando antes nada mais que gritos presos na minha garganta.

Parece que hoje escrevi o meu testamento, deve ser a minha primeira depressão alegre.