domingo, 8 de setembro de 2013

Noite...

... e o que é com a noite que nos deixa sem sossego, sem vontade de dormir e o nosso pensamento sem vontade de parar e nos deixa em constante busca do que está errado e do que podia ser onde nada de errado e nada vai ser?
Noite e a falta de sono que por vezes nos atormenta por coisas pequenas como uma frase mal dita, uma mensagem mal lida, um olhar mal interpretado. Há noite assim onde o dia finalmente faz sentido e percebemos o que fazemos pelo que nos surge, agora, na memória selectiva. Dou-me conta dos futuros que olhei hoje, dou-me conta da quantidade de vezes que pensei na mesma coisa, e no entanto, apesar de tudo continuo a pensar no mesmo, a não estar feliz com o que tenho e a desejar algo que por mais impossível que pareça, continua a despertar em mim algo que nada mais desperta. Quero pertencer e não sei onde, quero existir e não sei como, quero ver e assombra-me cada vez mais descobrir que não o quero fazer sozinho. Assusta-me esta imensidade vazia de não sentir paixão, de não sentir desejo, de não sentir nada mais que um profundo alheamento ao que passa ao meu redor e no entanto este alheamento uma falsidade, porque a cada palavra, a cada acto, a cada movimento uma dor, algo mais para me fazer sentir estranho.
Eu estranho, eu diferente, eu sentindo-me cada vez mais como uma curiosidade, como um elemento fora da vida das pessoas que aparece por vezes para as divertir com a minha presença, com a minha boa vontade, com a minha alegria que por vezes desaparece. Eu cada vez mais usando na cara um sorriso pintado de vermelho, o nariz vermelho, a armar o espectáculo e depois eu longe e já ninguém se lembrará.
Eu sozinho, num quarto sabe deus onde, pensando que amanhã há toda uma invasão de pedidos, de necessidades, eu pensando que não é pelo dinheiro, já não é pelo dinheiro que o faço, é que se não o faço, eu outra vez sozinho num quarto, a escrever para ninguém e a ler o resultado daquilo que fazem os meus dedos, nada mais que libertar o que sinto por dentro.
Talvez fosse tempo de o fazer.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Houve...

... um tempo em que acreditei num erro que me fazia feliz. Depois dele, veio a tristeza, a solidão, o experimentar de tudo o que era igual ao passado e me doía, me dizia, tens de tentar, tens de conseguir, e acabei por ter mais força.
Houve um tempo em que acreditei que a felicidade que sentia era um erro, e depois veio a libertação, o permitir de viver um pouco mais, o descobrir a cada dia um sorriso simples e sem compromisso. Dizia-me, não me digas que me queres idiota, eu também te quero e no entanto não quero arruinar o que sinto com palavras estúpidas. E no inicio eu não entendia, julgava que apenas coisas sem profundidade de uma chama passageira, que em duas semanas tudo passava e pronto, acabava. Para descobrir que não passa porque nunca começou, porque os sentimentos estão lá, mas nunca as palavras, então cada dia como um dia novo em que um sorriso, uma brincadeira, uma foto, uma idiotice qualquer dita ao telefone e feito, amanhã outro dia, dizer bom dia e nunca boa noite, fica a sensação de que é por gosto e não por obrigação, se bem que nunca quis ninguém por obrigação ou necessidade, fica um gosto especial de poder perceber um mundo diferente do meu, poder por alguns momentos pertencer a outra coisa completamente diferente. E no meio de tudo isto vou perguntando, porque será que um insiste no erro conhecido e teme a felicidade para lá da colina?

E o que significa tudo isso de felicidade? Uma sombra na parede, um par de braços que nos apertam por vezes e nos lembram que sem eles caminhamos sozinhos? Que leva uma pessoa a apaixonar-se por outra? A semana passada vários momentos surgiram, trabalho, vida, noticias. A inevitabilidade de um momento de descoberta provocado por um comentário nas redes sociais, o seguimento de link após link e ali estava, não a confirmação de algo que já sabia há muito, apenas a confirmação que no momento em que se pedia sinceridade, houve mentira, que a mentira foi a ultima coisa que ficou. Foi mais a desilusão que o choque. Na mesma semana fiz uma viagem de 800km em um dia, atravessei o Equador, cruzei a linha, estive nos dois hemisférios, e depois comi, deitei-me nos lençóis brancos do hotel e a partir dai dormi e sonhei que fazia amor com uma rapariga de cabelos negros, de pele morena e com um sorriso calmo de realeza. No dia seguinte acordei para busca-la ao meu lado e ela de facto lá. Talvez nunca tenha existido essa viagem e essa cama, mas deveria, e eu deveria deixar de mentir a mim próprio e deixar de esperar por um milagre e realizar o meu próprio milagre.  

domingo, 21 de julho de 2013

Há umas...

...semanas que busco por um lugar, parece que se apoderou de mim esta necessidade de ter onde voltar e que este ter onde voltar um qualquer lugar onde eu nunca tenha estado, mas que seja onde gostaria de estar. Eu sei, é complicado, e muito mais ainda é explicar, mas no meio de todas estas voltas e reviravoltas da minha curta vida, dei conta que por mais independente e distante que seja, sigo apenas isolado e sem ter algo a que possa chamar meu. Parece estranho e sem sentido, aliás não faz nenhum sentido isto que sinto, este não sei onde pouso já que há muito me habituei a pousar onde fosse.
Dou comigo a pensar nas férias, a pensar como será no Natal quando voltar a Portugal, onde vou dormir, onde vou ficar, onde não quero ficar. Fico com esta vontade de somente não voltar. Fico com esta vontade de sei lá, de não ter de decidir, de esquecer que tenho de decidir o que fazer, se quebrar de uma vez com as origens ou assumir de vez que um dia quero regressar, e se quero regressar, então que seja onde eu queira viver, seja perto ou longe de quem quer que seja.
Mais fácil falar e fazer de conta que é uma decisão fácil, facto é que há umas semanas que quase todos os dias vejo um ou outro site em busca de uma casa no meu pais, e pergunto sempre para quê.

Ainda não descobri.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Começaria...

... como se de um sonho se tratasse. Eu deitado numa cama, dormente, dormindo, a porta que permite ver o corredor onde uma luz fluorescente tenta manter-se acesa a custo. No fundo desse corredor ao entrar pela noite uma moça quase sem roupa sentada numa cadeira de madeira em que um pé mais curto que os outros o qual ela aproveita para baloiçar enquanto abana o calor e os mosquitos com um jornal velho. A lâmpada segue com o seu zumbido de abelha eléctrica enquanto as laminas no tecto continuam a cortar o ar a fazer de conta que tudo mais fresco quando o calor insuportável. Lá fora o frenesim incessante dos autocarros com demasiada gente e demasiados quilómetros parando, passando e cruzando-se uns após os outros. De uma cantina chega ao ouvido uma musica com trompetes e vozes que falam uma língua diferente, que grita pelo mesmo amor e pelas mesmas dores que todas as outras. O meu sono transforma-se em sonho e todos estas imagens se misturam ficando eu perdido num imenso western sem rumo. A cantina agora com portas e não apenas uma garagem, o nome o mesmo "california" que irónico, a mim faltam-me as pistolas, as botas, o cavalo que não me gostam e portanto raramente num sonho meu, e a minha imagem, o meu corpo perdido no meio de isto tudo sem saber bem que rumo ou que destino. Imaginava este cenário enquanto viajava à cidade, ia a encontrar sentimentos bons, pensando como podia eu muda-los de forma a que fossem maus e de forma a que eu quebrando laços e aflições encontrasse motivos para me sentir mal. Não foi desta que encontrei  a razão e motivo para tal. Haverá um dia...
Nessa viagem vi um um por do sol enquanto cruzava uma ponte, pensei, que coincidência, que bom. E esse por do sol, apesar de limitado à velocidade do próprio autocarro que me levava para a cidade mostrava um disco laranja forte puxando o vermelho a baixar sobre um rio de águas escuras carregadas de sedimentos oriundo das montanhas ou das florestas tropicais deste pais onde estou, rodeado de verdes vivos que o calor imenso e a água abundante permitem alcançar. Por momentos sorri, raras são as vezes que me dou conta de algo assim, talvez porque raramente me consigo abstrair tanto de mim próprio para poder olhar em redor e compreende-lo de alma aberta.
Não é que seja egocêntrico, egoísta, creio que o meu problema é bem diferente, analiso demasiado a minha própria existência e isso por vezes deixa-me doente, outras triste, outras desesperado e raramente feliz.
Vive-se como se pode, e assim é. E eu, no meu autocarro de 5ª categoria, a sorrir para um sol que se punha, a pensar que tão longe de onde estão as pessoas com quem vivi a maior parte da minha vida e a pensar "Depois do Equador, qual o próximo pais onde deveria ir trabalhar?"

Já nem sei se sinto saudades...


sábado, 6 de julho de 2013

Where...

... have you been? Onde até agora estiveste tu? COnsegues olhar para trás e dizer? Será que vale a pena fazê-lo?

De eternas complexidades se revestem as duvidas de quem as quer ter. Aquela sensação maravilhosa de estar debaixo de água e não nos mexermos porque tão silencioso e tão calmo e tudo tão longe e azul e nós ainda sem sentir falta de ar. Que acontece quando o nosso próprio juizo nos diz que devemos continuar assim e nos força por inércia a afogar-nos?

Coisa tão pouco amiga da felicidade, esta inércia, a manifestação física do medo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Cortei...

... os pulsos esta manhã, não da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda como quase todos fazem, da mão para o cotovelo para que não tenha como fechar o corte e que a coisa fique pelo meio. Pensei muito antes de o fazer, e agora que o fiz, sinto-me satisfeito por assim acontecer. Justificar a vida sempre foi difícil e de facto encontrar motivo para a mesma ainda menos.
Porque hoje de manhã e não ontem, o hoje há tarde? Não sei, não posso entender nem explicar, aconteceu, na mão a minha querida navalha de barbear, afiada como bisturi e comecei a cortar devagar e a perceber que não havia dor, apenas uma cor diferente a sair da minha pele, do outro lado a mesma coisa, apesar de mais difícil o corte, o mesmo efeito.
Deixava algures uma carta escrita há anos, guardada há anos acerca de algo que há anos na minha mente, dizia:

Hoje, cometi o maior o mais egocêntrico e o mais altruísta crime que alguém em vida pode cometer contra um si próprio, libertei o mundo da minha existência sob a forma de um corpo gélido no chão rodeado de liquido vermelho coagulado. E apesar de ser uma imagem grotesca esta que ficou agora marcada na cabeça de todos, o que fiz tem apenas um motivo, uma justificação, nestes meus 55 anos de vida, apesar de tantas tentativas, nunca consegui justificar a minha existência do ponto de vista de pessoa. Nunca encontrei o meu rumo, nunca encontrei o meu centro, nunca entendi onde queria estar amanhã ou depois, nunca percebi o que se passava ao meu redor. Nunca quis perceber devo corrigir-me. Eu não de cá, de outro lado qualquer menos deste mundo. Assim para que viver? Não vale a pena.

Algo do género, parafraseando agora que as forças já quase que se foram, que o meu coração bate cada vez mais devagar e sinto uma dormência onde antes os meus pés e as minhas mãos. Pergunto-me agora, de medo, de preocupação, será que estou para alcançar ao tal mundo onde finalmente julgo pertencer? E se apenas uma fantasia, uma falta de conformidade minha para com tudo e todos e apenas isso, nada mais que uma sensação de mal estar baseada em nada de transcendental? Seria possível voltar atrás agora? Era se alguém entrasse e me encontrasse estendido no chão (frio?) da casa de banho, se alguém tivesse escutado a minha queda há algumas horas atrás, não creio que passe alguém. As senhoras do serviço social só pela manhã de amanhã, vão achar estranho que não abra a porta, vão pensar, dorme coitado, e a comida do dia no vizinho como das outras vezes, haverei de ir busca-la pensará, ou não como em uma ou outra ocasião. De certeza outra fase de afastamento, de reclusão, e três ou quatro dias depois, já com algum mau estar no ambiente a policia e os bombeiros irão arrombar a porta e ver-me aqui, deitado, arrependido de ter feito o que fiz porque me matei e depois de morto, depois e consumado eu a querer voltar para trás a pedir por favor que entrasse uma pessoa que nunca vai entrar, e a perguntar-me porque nunca tive filhos, porque nunca quis uma mulher ou uma mulher me quis, porque não estudei, porque não já não sei quase falar, porque nunca trabalhei e sempre vivi da boa vontade de uns e outros, de uma pensão qualquer que uns pais destruídos me conseguiram para pagar este quarto nos fundos do prédio onde sempre vivemos e agora apenas eu.
Dos outros não sei, nunca fui de saber, nunca fui de querer outra coisa que não gritar, gritar por não saber o que queria e atormentar, parece que alguns irmãos, lembro-me de alguns mais velhos, longe já sem caras, de um velho e uma velha que até aos meus dez anos ainda caminhavam, depois um numa cama e o outro num caixão, juntaram-se rapidamente na mesma cova, eu se irmãos, não os conheço, sabe Deus se não já na mesma cova com os outros. Sabe Deus se eu na mesma cova onde todos eles juntos, sabe Deus se eu mesmo na morte sentindo que não pertenço a esta gente e a estes corpos.

Voltaria atrás neste momento, se apenas uma coisa diferente deste nada de rotina acontecesse, e talvez por isso eu aqui, que do nada nunca algo aconteceu.

ficção.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Não...

... sei o que sinto, ou se de facto se isto que sinto é o que parece ser. Confundo solidão com saudade com ausência. Que será que me faz sentir ao mesmo tempo sozinho, falta de alguém e distância de todos? Não sei porque realmente este sentimento que por ai anda e instala e segue meio no ar sem se identificar deixa-me meio pendente. Por um lado não gostaria de ter de concluir acerca da falta que ela me faz. Por outro penso, será que ainda é ela de quem eu sinto falta? Parece uma falta tão sem cara, tão sem propósito, tão sem foco.
Não sei que dizer ou fazer acerca disso. Parece sempre que o tempo não para e na minha vida apenas caminho para trás, para onde já não tenho o que tive e que não se consegue conquistar nada mais que não mais problemas e mais exigências e mais gente que quer, que necessita que chorar para não se aborrecer.
Gostava eu de poder chorar, ou pelo menos descobrir um bom motivo para o fazer, que não fosse o mesmo, o de sempre, para que não se chorasse por um coração meio partido, sei lá chorar apenas para libertar a sujidade que acumula ao redor de nós, sujidade de viver e conviver com outras pessoas que nos vão lançando as suas ideias e as suas palavras e com elas a suas próprias noções de vida e as suas próprias coisas sujas em seu redor e a nossa mente apenas consegue destruir e abandonar algumas, parte fica no ar, parte perde-se e parte precisa de ser lavada, lágrimas para as lavar, e com as lágrimas o nosso corpo como um dia de chuva na primavera, solarengo de tarde, bom para passear, para enfrentar o mundo.

Seguro que os problemas de todos muito perto dos meus , mas pronto, vamos lá, parece que não consigo libertar-me desta inércia da falta de auto estima, desta coisa toda que afinal me faz lutar sempre sempre e depois chego a casa para me desfazer como um baralho de cartas e perder o meu tempo a pensar no que poderia ter feito e no que tenho de fazer para compensar o que não fiz e fico assim, preocupado, triste e sem saber com agir para evitar confrontos.

Servia uma mão para agarrar a minha, por vezes uma mão para agarrar quando o deserto apesar de ainda curto já faz muito doer e já nos levou toda a força que tínhamos para o enfrentar, assim que uma mão, de alguém que um dia me dissesse que sim que eu mais importante que o resto, e se para mim essa pessoa mais importante que o resto, não haveria coisas que não pudéssemos fazer, coisas que não pudéssemos ver, mesmo que fosse só na minha imaginação, mesmo que fosse só naquela esperança de quem acredita em amor à primeira vista, e que acredita que não se pode fazer mais que sentir e conhecer e acreditar nos sentimentos e saber desde dentro dos meus ossos, dentro de mim que os meus sentimentos nunca me vão mentir, e sente-se tanto e tão forte por vezes.