segunda-feira, 15 de julho de 2013

Começaria...

... como se de um sonho se tratasse. Eu deitado numa cama, dormente, dormindo, a porta que permite ver o corredor onde uma luz fluorescente tenta manter-se acesa a custo. No fundo desse corredor ao entrar pela noite uma moça quase sem roupa sentada numa cadeira de madeira em que um pé mais curto que os outros o qual ela aproveita para baloiçar enquanto abana o calor e os mosquitos com um jornal velho. A lâmpada segue com o seu zumbido de abelha eléctrica enquanto as laminas no tecto continuam a cortar o ar a fazer de conta que tudo mais fresco quando o calor insuportável. Lá fora o frenesim incessante dos autocarros com demasiada gente e demasiados quilómetros parando, passando e cruzando-se uns após os outros. De uma cantina chega ao ouvido uma musica com trompetes e vozes que falam uma língua diferente, que grita pelo mesmo amor e pelas mesmas dores que todas as outras. O meu sono transforma-se em sonho e todos estas imagens se misturam ficando eu perdido num imenso western sem rumo. A cantina agora com portas e não apenas uma garagem, o nome o mesmo "california" que irónico, a mim faltam-me as pistolas, as botas, o cavalo que não me gostam e portanto raramente num sonho meu, e a minha imagem, o meu corpo perdido no meio de isto tudo sem saber bem que rumo ou que destino. Imaginava este cenário enquanto viajava à cidade, ia a encontrar sentimentos bons, pensando como podia eu muda-los de forma a que fossem maus e de forma a que eu quebrando laços e aflições encontrasse motivos para me sentir mal. Não foi desta que encontrei  a razão e motivo para tal. Haverá um dia...
Nessa viagem vi um um por do sol enquanto cruzava uma ponte, pensei, que coincidência, que bom. E esse por do sol, apesar de limitado à velocidade do próprio autocarro que me levava para a cidade mostrava um disco laranja forte puxando o vermelho a baixar sobre um rio de águas escuras carregadas de sedimentos oriundo das montanhas ou das florestas tropicais deste pais onde estou, rodeado de verdes vivos que o calor imenso e a água abundante permitem alcançar. Por momentos sorri, raras são as vezes que me dou conta de algo assim, talvez porque raramente me consigo abstrair tanto de mim próprio para poder olhar em redor e compreende-lo de alma aberta.
Não é que seja egocêntrico, egoísta, creio que o meu problema é bem diferente, analiso demasiado a minha própria existência e isso por vezes deixa-me doente, outras triste, outras desesperado e raramente feliz.
Vive-se como se pode, e assim é. E eu, no meu autocarro de 5ª categoria, a sorrir para um sol que se punha, a pensar que tão longe de onde estão as pessoas com quem vivi a maior parte da minha vida e a pensar "Depois do Equador, qual o próximo pais onde deveria ir trabalhar?"

Já nem sei se sinto saudades...


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