domingo, 27 de novembro de 2011

Uma festa...

... de despedida, no meio de tanta gente, olhava para o céu para evitar olhar para as pessoas. Percebo nos  olhos deles que há os mesmos sentimentos, será que escrevem? Será que se sentem agoniados de tantas tristezas, de tantas mágoas? Sei lá, por vezes abate-se sobre mim aquela vontade de fugir de todas as actividades que envolvam pessoas, que envolvam ter de olhar para pessoas, de sorrir para pessoas, sei lá de ter de esconder por detrás um sorriso uma vontade tão grande de chorar, de me lamentar, de perguntar, será que não se sente tristes? Arrependidos de alguma coisa como eu arrependido e aflito com tudo o que faço, com tudo o que tento fazer nas melhores das vontades, e tão fácil de criticar, de dizer está errado, e eu a pensar porque por vezes a vida surge assim, dura no final, dolorosa com as despedidas. Ontem houve uma festa de despedida e quando cheguei as pessoas que estavam não pareciam estar alegres, andavam por ali com um sorriso, com o sorriso amarelo que me doe tanto, e eu triste, dentro de mim desejoso de poder deixar aquele lugar, falei com este e com aquele, falei, bebi, comi, fui para casa e dormi e hoje a sensação mantêm-se, o virar da página tão próximo que não chega nunca, a ânsia de esperar por algo que já devia ter acontecido antes. Porquê esta relatividade, porque esta demora nas coisas que se arrastam e nos deixam desesperados, sinto-me triste há tanto tempo e apenas vai aumentando e aumentando.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É...

... tão simples opinar acerca de coisas que não nos afectam, coisas que vemos na vida dos outros que ainda não vimos na nossa. Emitir variações e alterações, rodar e inverter a cadeia temporal que cada um teve de seguir fazendo parecer que todas as decisões até então erradas, que poderiam ser melhores, mais bem pensadas.
Sinto-me assim, crítico, comentador, um verdadeiro esperto que opina sobre tudo e sobre todos, que vê sempre uma forma diferente para as coisas. Sinto-me assim e no entanto neste cruzamento só me apetece voltar para trás e refazer tudo até agora. Devia de conseguir ser mais coerente, mais decidido e escolher um caminho, não moer mais este sentimento em mim de que eu sei estar certo, que eu sei estar de acordo com o que eu sinto, e o que eu sinto é o que está certo porque não há mais ninguém que não eu em mim, neste corpo. Alguém me citou Hitler ontem, "cada pessoa um império, um líder" e apesar de saber qual as ramificações de tal frase, qual as intenções da pessoa que a proferiu, não posso de deixar de a adicionar ao meu pensamento, à lógica que hoje tento fazer de mim.
Cada pessoa um império, que deve ser liderado, e quem outro para o liderar senão a própria pessoa? Significa portanto que um líder de si próprio não pode nunca estar errado nas suas decisões pessoais pois quando as toma apenas irá causar vitórias ou derrotas pessoais, isto dando excepção a todas outras interacções humanas que não a de um individuo com a sua própria consciência e existência. Torna-se portanto imperativo demonstrar através da lógica disponível que os actos, as decisões tomadas nunca poderão ser erradas ou certas, são apenas decisões das quais, de uma forma consciente ou não, iremos ter de arcar com as futuras consequências e portanto estaremos novamente numa bifurcação decisiva onde olharemos para trás e nos arrependeremos de ter escolhido direita em vez de esquerda, mas por defeito da existência iremos dizer que foi errado, quando devíamos apenas dizer que foi uma decisão.

Aqui não existe Outono, existem duas estações que não mudam tanto, numa chove e o sol brilha, noutra não chove e não há sol. Olhando para o que vivi, sempre vi o Outono como um período mau, sempre o sofri um pouco, sempre me custou mais que o Verão ou o Inverno, sempre me pareceu mais hostil que a Primavera. Mas aqui não há disso, e no entanto, olhando para trás, eu sei que em mim algo do cair de folha outonal me vai fazendo murchar. Algo que eu sei que sempre irei ultrapassar, mas que a minha natureza raramente me deixa considerar como apenas mais uma decisão.

Sinto falta de fazer isto, de escrever. Sinto falta dos meus cadernos, das minhas páginas, dos meus livros, dos meus autocarros cheios de gente, das minhas roupas sem pretensão, da minha barba por fazer, do desleixo geral de quem apenas quer ser feliz sem olhar para invólucros. Sinto falta de ser criativo, sinto falta de ser o bruno e não o Bruno.
  

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Escrevi...

... em inglês uma carta para uma entidade que eu não percebo bem, é um homem, é um conjunto de homens e mulheres, para quem escrevi eu essa carta? Diz em inglês, diz em inglês palavras que escrevi quando de cabeça  a andar à roda, quando sentimentos em mim giravam como se sem rumo apenas conseguissem girar em torno de mim.
Dizia "demito-me" e ao dizer isso dizia que não só do meu emprego, do meu trabalho, mas também das minhas responsabilidades, dos meus problemas, da minha vida. E por vezes um demito-me deveria ser assim, de tudo, de ti, de mim, de todos, demito-me de ter de viver sem rumo como os meus sentimentos, demito-me de ter de viver para trabalhar, de ter de limpar os problemas de precipitados e corajosos, de irresponsáveis e egocêntricos. Acima de tudo gostava de me demitir dos meus próprios pensamentos, que me atormentam, me fazem sentir culpado a cada dia que regresso a casa, a cada manhã em que acordo e penso nas milhares de coisas que podia fazer melhor, e no entanto não consigo, porque nunca bom o suficiente.
Desde que a escrevi, a vejo ali bem em frente de mim, me apetece imprimi-la, colocar-lhe uma data, assina-la e entrega-la à minha mulher, ao meu chefe, aos meus pais, aos meus amigos, pedir-lhes que compreendam que eu um solitário, um isolado, um eremita que quer carinhos mas que não os suporta, que quer orientação mas não a aceita, que quer saber onde estão as suas raízes e só sonha com ir ainda mais longe.
Só após nos demitir-mos de toda a responsabilidade, de todas as pessoas podemos de facto partir de olhos e peito abertos, prontos a aceitar a cada passo as milhares de formas diferentes com que a vida nos faria tropeçar.
Mas as pessoas ainda me são demasiado importantes, talvez comece pelo trabalho...