segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Custa-me...

... falar de dores e tristezas mas de algum modo elas hoje andaram lá no fundo da minha mente, para lá do ultimo plano a passear, a acenar insistentemente como aquelas pessoas que nos vêm na rua e nós as vemos a elas e pensamos pode ser que não tenham visto e elas param exactamente no sítio para onde desviamos o olhar e acenam acenam as mãozinhas até que desistimos e vamos lá dizer-lhes olá como está como vai a vida muito trabalho só passear por aqui por ali onde tens estado para onde vais, o rol costumeiro de palavras e perguntas das quais não queremos saber resposta nem ouvir retribuição. Enfim falava de dores e tristezas e talvez por me ter sentado a escrever me tenham surgido de súbito como a coisa mais importante para escrever. Doe o corpo e a mente e a alma e depois de tudo o que doe doe ainda mais um pouco estar longe de casa. Vivo no meio de um bairro a menos de quinhentos metros da casa do presidente, e diria-se que isso por si só seria suficiente para que se determinasse ser um bom bairro, não o é, no entanto a minha casa lá bem longe onde ela vive e ela se deita e ela tem as suas coisas, aqui comigo apenas uma lembrança, algo que me colocou entre as roupas da ultima vez que lá estive e que já perdeu o cheiro mas mantêm a emoção que revivo todas as manhãs quando abro a gaveta e vejo a prenda dela, a pego, a cheiro e uma peça de roupa por mais simples que pareça por vezes tão como comida, como o bater dos talheres que nos faz salivar. Somos de facto seres de hábito e de habituações. Sinto-lhe a falta hoje por não a ver, sentia-lhe a falta antes por não a ouvir, antes disso por dela não saber e no entanto agora que ela e eu juntos, eu longe, sem vontade de romances sem desejo de carne que cresça em mim, olhando atributos que não os dela e simplesmente rejeitando o que vejo ou considerando que tudo diferente e que eu não deste mundo onde vivo mas talvez de outro diferente, mais regrado, mais cheio de pudores. E por detrás das tristezas que passeavam na minha mente hoje os meus pudores mortos, enterrados e eu um animal selvagem correndo a rua procurando sem rumo por uma carcaça, por uma presa que sem dó sem escolha devoraria no segundo imediato à sua morte. Talvez apenas me pense assim e de facto nunca esse o meu feitio, talvez julgue que sinto demasiada dor pelo afastamento ingrato daquilo que considero realidade e modo de vida, ou talvez apenas uma certa complicação de ideias, um certo desconcerto de regras e morais. Talvez eu perfeito para apenas sonhar com dores e romances que nunca haverei de ter, como pessoas que parecem merecedoras de total dedicação. Talvez um dia, numa outra vida se a reencarnação um facto e eu libertino, conquistador, despreocupado, não como eu agora. Sou como sou e aceito tantas vezes que o que passei levou-me a um patamar em que passo por outras provas e as ultrapasso com menos drama porque tudo complicado e no entanto tudo com hipóteses válidas de solução mas digamos que me custa fazê-lo sem ti.

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