segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Não quero...

... continuar a fingir que vivo uma vida boa só porque cada vez que regresso a casa posso ficar a olha a parede e imaginar que ganhei muito durante a minha ausência. Não há nada neste mundo que pague ou alguma vez me compense do tempo longe dos meus. Luanda foi uma visão de terror quando aqui cheguei, assustei-me com a extensão imensa do bairro de lata que vi assim que o avião curvou para aterrar. Passou-me pela cabeça meu Deus que horror assim sem mais nem menos lembrei-me de Portugal, de que também há coisas assim por lá e que não podia ser tão mau. Quase um ano passou e eu por aqui vou indo de casa ao trabalho, de casa à Ilha, de casa à praia, de casa ao supermercado, e a cada ida ali ou acolá sinto o meu vazio aumentar pela falta imensa de um pouco mais de brilho na minha vida, um pouco mais de satisfação que a cada dia deveria crescer ou manter-se, não desaparecer cada vez mais. Mudei de trabalho, voltei a casa e regressei novamente, e esse avião que me trouxe parecia uma faca afiada que entrava lentamente entre as minhas costelas e se instalava no meu pulmão cortando a respiração, deixando-me a engolir ar sem o conseguir. Sentei-me numa cadeira durante uma semana magoado, aflito com o panorama que tinha deixado em casa, um amor tão batalhado, tão cheio de altos e muitos baixos, de dores e afastamentos, quando finalmente esse amor restabelecido e planos de futuro juntos, eu de novo sentado nesta cadeira a muitos mil quilómetros de lá. E novamente a questão se tu a minha casa meu amor, porque eu não ai contigo. E a resposta por parva ou por incrível que pareça pelo menos triste, nenhum de nós tem a coragem para mudar o que tem de forma a que o que tem passe a ser o que temos. É assim uma vida moderna e internacional que recebi, que me diz estás no caminho certo, vais lá chegar, e depois a minha cabeça complicada ajuda a dizer que vais lá chegar, mas para lá chegares vais ficar muito tempo longe, vais perdê-la e vais voltar a sofrer por que tu e ela juntos, tu e ela separados sem sentido.
Quando o amor nos obscurece a visão, torna-se necessário cura-lo, esquecê-lo, perdê-lo, ou entrar nele, viver dele, viver para ele. Já me imaginei a fazer a lida da casa, o jantar, o almoço enquanto procuro por emprego ai. Tentar escrever que sempre gostei tanto e sempre foi uma das minhas ocupações. Talvez ai encontrar uma ponta às histórias que andam cá dentro. E talvez um dia quem sabe eu novamente a fazer o que gosto, junto de ti, e nós os dois felizes, despreocupados porque juntos, porque sem razão para estarmos de outra forma.

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