sexta-feira, 13 de agosto de 2010

No princípio...

... era o verbo? Ou seria antes uma vontade enorme de mudar? Costumeira tradição de quem se sente sozinho e aborrecido por o estar. Sentia muitas vezes a dor profunda que era passar na rua e ver pessoas com as quais poderia falar e não falava, com pessoas com as quais queria viver e não vivia, sei lá, algo em mim se enche e se retorce em busca da satisfação que é a curiosidade. Como seria viver com o Sr. José Joaquim que encontrei ontem no metro? Buscar nele os hábitos, as roupas, entender o que faz o SR. J.J. ser diferente do Sr. R.J que lhe partilha o Joaquim do nome.
Percebem a minha insatisfação?

Claro que não percebem, assim como eu não vos percebo a vocês que por alguma forma me dizem que sim, me entendem a ânsia e a busca. Liguei à pouco para alguém, talvez não tenha ligado, enviei uma sms a pedir para poder ser escritor, deixar de fazer esta coisa que faço. Percorri alguns sítios por ai e vejo tanta gente dentro de uma pele que não lhe corresponde, tal como a minha não me quer corresponder. Uma bolsa de "pele", crie-se um ebay para troca de vidas, troco a tua vida pela minha, a minha pela de duas pessoas diferentes e aguardo que essa me diga exactamente a mesma coisa que a minha me diz hoje, és confuso e esquece lá se pensas que esta pele é melhor que a anterior, não é e apenas te fará sofrer de forma diferente.

Vícios de um ignorante português que um dia desejou correr o mundo e agora nada mais pensa senão em voltar para a sua casa, esquecer que algum dia soube onde ficava o aeroporto, esquecer que algum dia disse "eu vou". Houve dias em que disse sim e me arrependi, este um deles, devia ter dito não, esqueçam, ponham-me na linha do desemprego que não me importo, na violência do trabalho precário que me estou marimbando, eu pinto casas, eu arranjo portas, eu gosto de aprender, sei lá eu faço alguma coisa para poder chegar a casa antes das sete da tarde, ou que seja depois das sete da tarde, e vê-la a rir para mim, sentir o cheiro delicioso que sai da pele dela, dizer que se alguma vez eu longe dela eu nunca com mais ninguém, eu nunca com mais nada que não esse conforto imenso que se poderia uma vez chamar de amor, outra vez de dependência outras apenas de comodismo.

Ingrata cabeça que confunde comodismo e amor na mesma frase, e porque não dizer que o amor é cómodo e nos ajuda a sentir-nos seguros e tranquilos? Porque não dizer que apenas dizemos Amo-te porque não temos a coragem nem a paciência para aguardar que alguém nos diga primeiro que de nós sente amor, ou seja que não teve a paciência necessária para ganhar o jogo.

O princípio é simples e nunca foi o tal verbo do misticismo, o principio sempre foi a honestidade procurada em mim e nos outros.

Vou talvez ser honesto umas vezes por outras, apesar de tudo confesso que sempre fui demasiado mentiroso a escrever ficção, talvez defeito censuro-me no meu exagero dramático.

Talvez defeito...

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