quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A insónia...

...finalmente chegou para mim. Havia momentos da minha vida onde duvidava de quem dizia dormir mal porque o trabalho não ajudava, porque os problemas não paravam, porque a consciência pesava. Alguns era da minha idade, outros mais velhos mais novos, e eu que dormia todas as noites de igual modo tranquilo recusava-me a acreditar que alguma vez seriam más as minhas noites. Desde que regressei parece-me que todas elas demasiado curtas e as poucas que foram longas demasiado irrequietas. Sinto dentro de mim que algo morre devagar, por vezes penso que sou eu por estar longe que estou a perder as minhas forças e a minha coragem de emigrante à boa moda portuguesa. Sinto que os medos profundos de outra hora se manifestam face a algumas impossibilidades do momento. O não posso a que respondo aos apelos de quem me ama, o não pode ser que recebo de resposta aos apelos que faço à mesma pessoa começam a preocupar-me, a deixar um rasto de destruição lá para trás, e agora os telefonemas mais curtos, as mensagens mais vagas e eu cheio de vontade de me desfazer em lágrimas pela sorte que por vezes nos vemos sem forças para mudar. Muitos e depois, muitas interrogações de como irá ser, como vamos fazer se, e eu olhando para uma vida ingrata que me permite estar afastado de todos que considero demasiado importantes para o estar, eu olhando para mim que me permito a tal luxo. E depois como vamos fazer, quando depois desta etapa outra etapa, quando depois desta proposta outra proposta que não se consegue dizer não. As férias que destroem a minha capacidade de aguentar a separação, que nos aproximam tanto tanto e eu ali no aeroporto a beijar-te, a dizer que passa num instante, a entrar no avião e a viajar tantas horas, a chegar à outra casa, não a verdadeira, apenas às paredes que me dão abrigo enquanto não me posso abrigar em ti, e a dormir, a acordar e apenas no dia seguinte me dar conta que não me afastei umas horas de ti mas toda uma vida novamente longe. E talvez não durma porque o trabalho me incomoda ou porque os problemas do trabalho não deixam, mas por vezes julgo que não durmo porque sinto em mim um problema que somos nós, não juntos mas nós afastados, o tempo faz apagar a paixão e o meu desejo desapareceu por completo. Sinto a inércia morna da água parada, sem continuidade, apenas estagnada. Sinto em mim uma desilusão com o que tenho e com o que sou porque há coisas que devem fazer-nos largar tudo e no entanto talvez por já ter sido tão sofrido este amor, eu não o consigo fazer-me largar a minha realização pessoal. Sou-lhe fiel, sou para esse amor o que devo ser, no entanto cada vez mais julgo que morre em mim um pouco mais dessa urgência do corpo e apenas o carinho me falta, o beijo, o abraço a ternura de tua pele e o fresco dos teus braços. Se eu contigo não faríamos amor hoje minha querida, apenas te ouviria respirar tranquila enquanto descansavas do teu dia de trabalho, e ai sim eu diria que a insónia seria de trabalho, ou então devida a um mau sonho que me fez acordar, e não nunca por estarmos longe porque isso apenas um sonho mau que ambos sonhámos em conjunto e que o tempo se encarregará de levar para um lugar escondido da alma, da memória, do corpo.
A minha insónia prolonga-se pela noite enquanto durmo e não consigo parar de pensar, enquanto me lavo pela manhã e nada na minha cabeça senão trabalho vida tu e por vezes apetece encher a banheira e colocar lá dentro a cabeça abrir a boca e gritar o mais que conseguir debaixo da água. Talvez assim algo de mim se libertasse e eu mais descansado, eu mais confiante que nós somos um único futuro, eu mais focado no que se precisa de fazer para ter esse futuro, eu cheio de coragem sentado no escritório do administrador a rasgar o contrato de anos que me entregou para assinar e a pedir que me desse antes um bilhete para casa. Eu assim forte e orgulhoso de mim enquanto chegava finalmente a ti que és a minha casa, e dela não gosto de me afastar.

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