sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Levantei-me...

... da cadeira que tenho em frente ao computador, olhei em redor e a divisão pequena com o pomposo nome de sala de produção pareceu ainda mais pequena e opressora. Levantei-me porque pensava em ti e nas coisas que de ti vêm e vão, o meu estômago incerto contorcia-se com uma dor esquisita que diria ser a tensão de algo que está prestes a romper-se. A tua distância a tua indiferença agravavam-me a visão, deixavam névoas e dúvidas, sai, subi as escadas e entrei na casa de banho, tranquei a porta, sentei-me na sanita, não porque o meu corpo sentisse alguma necessidade, mas apenas porque ela tem a altura exacta para que eu sentado me possa dobrar, colocar os cotovelos em cima dos joelhos, as mãos a segurar a cabeça tapando os ouvidos de modo a que eu não me ouvisse soluçar e portanto para que ninguém me ouvisse soluçar. As lágrimas teimosas percorrem a face e perante uma tal injustiça eu apenas triste por não poder dizer que te amo, eu apenas triste por não poder dizer que te amo meu amor, apesar de parecer seres tu que não me amas, e eu tão descrente disso eu tão revoltado comigo por ter perdido novamente, por ser sempre a minha culpa, porque eu sempre longe e eu sempre um peso e eu sempre distante e eu sempre sem vontade de ir aos jantares com as amigas e eu sem poder ir passear porque não há dinheiro. E no entanto eu agora cheio de vontade de te fazer todas essas coisas, eu tão cheio de vontade de te ajudar a ultrapassar a indiferença, de te ajudar a esquecer que alguma vez me viste de outro modo que não o teu amor. E as lágrima que insistem cair, que insistem ser por ti, vão queimando a minha alma e vão-se espalhando até ao meu queixo onde pingam, onde me distorcem a face, e no meu redor não vejo nenhuma solução para viver, não vejo uma vontade para ser mais e melhor, não vejo razão para querer ser de mais alguém que não teu. Por vezes preciso de ser ouvido, por vezes preciso de saber que alguém me escute e imagino que eu sentado a um canto rodeado de pessoas que não falam, só ouvem e eu sem parar liberto todas as palavras que me rodeiam a mente, todas as sombras ingratas que me correm o corpo, e elas acenam a cabeça e todas elas me amam, todas elas me deixam ser o seu amor, possuir o seu corpo, e eu fantasiando com isso julgando-me uma espécie de super ser revestido de eterna paixão e amor, quando apenas tenho o medo do esquecimento que me assombra agora, quando tenho medo da distância, quando não te vejo mais do que aquilo que já és, a mulher que quero, que sempre quis e não consigo manter comigo porque algo em ti complicado. Ouvir um amo-te lavaria todas as mágoas.

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