quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Angola...

... é um sítio que me obriga a escrever no meio de um trânsito caótico ouvindo uma entrevista surreal de um ex-treinador da selecção Angolana acerca da vida que levou por cá. Pobre francês sofreu a bem sofrer todas as peripécias decorrentes do normal viver neste belo pais. Queixava-se o senhor que a malta não era profissional quando aqui andava. A seguir (eles fazem muito isto, entrevistam alguém em diferido e depois metem a outra parte em directo a fazer a defesa) dois senhores da federação dizem que não lhe pagaram os ordenados porque o sr. se estava a divorciar e que queria o dinheiro num offshore qualquer para a víbora da mulher não lhe por as garras em cima. digamos que eu ainda não parei de rir desde que comecei a ouvir isto, e que estou a reportar em directo. Hoje apeteceu escrever sobre algo do quotidiano, que aqui é sempre tão variado e por vezes divertido que realmente parece um filme indiano / novela mexicana. Vou comprar um sari e duas pistolas para andar na rua hehehe.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

As...


...palavras do dia a dia são tão fortes e tantas que ultimamente sinto cada uma como se fosse uma martelada directamente no meu ouvido. Um telefonema e o incessante som do martelo ta ta ta ta ta, um problema na obra e outro martelo a bater em mim. Eu depressa sem força nos joelhos e sem vigor na cabeça para deslindar as intrincadas incoerências da vida. Reduzo-me a trabalho e sono e comida e alguns dias em que realmente digo, estou vivo, porque sozinho olho algo que não me agrava e sozinho entro em mim e percebo todas as dores e castigos que me imponho. Não deveria ser tão pessoal tudo o que acontece, no entanto acontece e eu por vezes julgo que eu no centro de um universo que não existe e por isso quando me descubro bem longe dele, sofro por não poder ser melhor do que já sou, maior do que sou, mais magnânimo, mais altruísta. Gostava de voltar a descobrir um amor que perdi há uns tempos, amor que me fugiu outra vez por entre os dedos como água ou areia na praia, e se esse amor algo sereno, devagarinho os olhos noutros olhos, a pele noutra pela, a mão tocada e não afastada, o sorriso aparecendo e eu esquecido que apenas eu, e eu julgando que tudo de novo com sentido, tudo de novo com alegria e com significado.

Um dia gostava de me apaixonar novamente, e nessa paixão a aventura de correr para aqui e correr para ali, de ver o Alasca, de ver a Argentina, de seguir por todos os caminhos e rotas deste mundo e apenas descobrir que em todas as pessoas que por ele conheceria que o primeiro sorriso conta mais que tudo, o primeiro passo um grande desafio, e o beijo, algo pelo qual eu sempre anseio, dificilmente chegará. Gostava de ser crónico tímido, e não apenas demasiado tagarela para a timidez que sinto em mim.

domingo, 17 de outubro de 2010

Um dia...

... acordei à hora normal, seis e trinta da manhã, e da mesma forma como no dia anterior e como nos dias seguintes, levantei-me, tomei banho, coloquei uma roupa tirada do armário da mesma forma como se tira uma bola vermelha de um cesto cheio de bolas vermelhas, o mesmo que dizer a primeira que vem à mão, e segui para o trabalho, a cidade àquela hora ainda um pouco vazia, segunda feira é sempre um dia de demora a chegar ao trabalho, atrasos porque o fim de semana ainda agarrado à mente e ao corpo. Peguei no carrito pequeno que me deram, gasto de mau uso não de idade e subi contornei a obra nova da assembleia, subi a rua que passa junto ao ministério da justiça, fiz o retorno no hospital e desci a rua até cruzar com a avenida. O escritório ali junto de mais um bairro de miséria que perde terreno para as vivendas chiques e novas das empresas que se instalam ou das embaixadas que vão abrindo por esta terra de petróleo e diamantes, de agricultura e oportunidades de que todos querem conseguir ter um pedaço. Obras novas na minha cabeça, ideias para brilhar e para concretizar sonhos, vontade de ser mais forte e mais capaz de lidar com os problemas da semana anterior. Por momentos, como todas as minhas ideia, considerei o disparate de respirar já as ruas desta pequena cidade tão agitada como se respirasse as ruas da minha primeira cidade, e o disparate a surgir do facto de as conhecer melhor aqui do que lá, onde vivi durante anos. Como sempre, pensei em amor, não haverá dia que dele não me lembre, e nesse campo eu tão dividido entre a vontade de gritar o grito da libertação e viver aventuras, correr o mundo com a mochila e esquecer que se precisa de amar alguém, e com a vontade de encontrar uns braços ternos e confortáveis que me segurem e me garantam que tudo está bom.
Uma vez olhei uns olhos bem azuis e julguei ter visto neles uma resposta à minha divisão, esses olhos viram-me e pensaram algo que eu não sei nem consigo adivinhar, e no entanto eu incapaz de fazê-los perceber que os quero, que os procuro tantas vezes de uma forma ávida, que os queria para mim. Chego ao escritório, as obras apesar de novas não começaram ainda e eu sento-me por lá a resolver papelada e a julgar o que será quando elas começarem. Deixar de poder ir para onde quero e levar-te, deixar de te ver.
Diria que descobri que me apaixonei a uma segunda feira pela manhã, e no entanto não tenho coragem para o concretizar. Talvez um dia quando for mais antigo, mais usado que agora me consiga perceber e emendar pela forma que a minha timidez me impede de te dizer o que julgo sentir. E seria belo o dia em que o fizesse.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Deixava-te...

... sozinha na porta de casa, de mala caída no chão, boca aberta enquanto eu sorridente retirava mais um livro da estante para dentro de um caixote. A tua boca incrédula não gesticulava palavras que não conseguias falar tão do mesmo jeito que não conseguias dizer amo-te ou tão do mesmo jeito que depois não conseguias simplesmente dizer mais alguma coisa. A mala caída demonstrava o inesperado da situação, eu ali a sorrir, a arrumar livros, os meus fáceis de encontrar entre os teus tão genéricos e coloridos de romances best seller e autores do mês. Lias como vives, de acordo com o que mais vende e que mais é badalado na revista ou na tv, conforme precisavas de um carinho ou precisavas de um contacto. Magoaste-me e esta era a minha vingança, uma fita grande, a casa cheia de papelinhos coloridos em formas redondas espalhados por todo lado, na fita algo como surpresa vou sair de casa e os teus olhos fixados na parede onde a pendurei, na garrafa de espumante meia bebida dentro do balde de gelo, sem copo para quê copos quando o dia é de alegria, bebe-se de gole e da garrafa. E algo no teu coração depressa desperto, um beijo na face, um ligeiro empurrão para chegar à tua orelha e num sussurro como se diz no meio do beijo mais quente, vou embora amor, até nunca mais.
As lágrimas no carro, as lágrimas no caminho para lado nenhum, e eu simplesmente a viver uma novidade, a viver sem ti.