... da cadeira que tenho em frente ao computador, olhei em redor e a divisão pequena com o pomposo nome de sala de produção pareceu ainda mais pequena e opressora. Levantei-me porque pensava em ti e nas coisas que de ti vêm e vão, o meu estômago incerto contorcia-se com uma dor esquisita que diria ser a tensão de algo que está prestes a romper-se. A tua distância a tua indiferença agravavam-me a visão, deixavam névoas e dúvidas, sai, subi as escadas e entrei na casa de banho, tranquei a porta, sentei-me na sanita, não porque o meu corpo sentisse alguma necessidade, mas apenas porque ela tem a altura exacta para que eu sentado me possa dobrar, colocar os cotovelos em cima dos joelhos, as mãos a segurar a cabeça tapando os ouvidos de modo a que eu não me ouvisse soluçar e portanto para que ninguém me ouvisse soluçar. As lágrimas teimosas percorrem a face e perante uma tal injustiça eu apenas triste por não poder dizer que te amo, eu apenas triste por não poder dizer que te amo meu amor, apesar de parecer seres tu que não me amas, e eu tão descrente disso eu tão revoltado comigo por ter perdido novamente, por ser sempre a minha culpa, porque eu sempre longe e eu sempre um peso e eu sempre distante e eu sempre sem vontade de ir aos jantares com as amigas e eu sem poder ir passear porque não há dinheiro. E no entanto eu agora cheio de vontade de te fazer todas essas coisas, eu tão cheio de vontade de te ajudar a ultrapassar a indiferença, de te ajudar a esquecer que alguma vez me viste de outro modo que não o teu amor. E as lágrima que insistem cair, que insistem ser por ti, vão queimando a minha alma e vão-se espalhando até ao meu queixo onde pingam, onde me distorcem a face, e no meu redor não vejo nenhuma solução para viver, não vejo uma vontade para ser mais e melhor, não vejo razão para querer ser de mais alguém que não teu. Por vezes preciso de ser ouvido, por vezes preciso de saber que alguém me escute e imagino que eu sentado a um canto rodeado de pessoas que não falam, só ouvem e eu sem parar liberto todas as palavras que me rodeiam a mente, todas as sombras ingratas que me correm o corpo, e elas acenam a cabeça e todas elas me amam, todas elas me deixam ser o seu amor, possuir o seu corpo, e eu fantasiando com isso julgando-me uma espécie de super ser revestido de eterna paixão e amor, quando apenas tenho o medo do esquecimento que me assombra agora, quando tenho medo da distância, quando não te vejo mais do que aquilo que já és, a mulher que quero, que sempre quis e não consigo manter comigo porque algo em ti complicado. Ouvir um amo-te lavaria todas as mágoas.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Gostava...
...de poder ter a calma suficiente para neste momento conseguir ver claramente o que a minha vida me pode reservar. Mais uma fase crucial, mais um ponto de rotura perante de mim, mais uma dor, uma ansiedade, mais uma pilha de questões das quais as respostas não dependem de mim. E é assim que um dia me vejo a perder outra vez um dos pilares, um dos motivos para ser melhor. Estou tão longe de mim, longe de ti, e tu és tão importante, e tu és tão instável, e cada vez que tu instável a nossa relação questionada, a nossa relação em causa. Gostava de poder responder por ambos, gostava de poder ser eu a responder sim, seria muito mais fácil, e não sou eu, não sou eu que tem de dizer, e a resposta que virá está a deixar-me aterrado, vou perder-te sei que já te perdi, e não te quero perder.
sábado, 18 de setembro de 2010
O amor...
... foge-me entre os dedos novamente como a areia da praia quando a agarramos. Estou demasiado longe para poder cultiva-lo e percebo-a, percebo que se sinta só, que queira o conforto inerente do contacto humano. Fizemos planos, fizemos coisas tão boas para que tudo caia sobre a forma de um "não sei" a minha vida parece um interminável repetir desta frase, desta pequena frase que destrói o que tenho e o que temos juntos. Não é fácil para ninguém meu amor, não é fácil para mim que não paro de chorar porque te sinto a falta, porque te sinto à deriva ai. Os meus apelos parecem tão fracos com a distância que até eu os tenho dificuldade em digerir. Tanta coisa outra vez, mais um ano que passa e mais uma vez o mesmo erro entre nós. Só quando é tarde demais se fala no que se sente, e não sabes e não queres e não podes e não sabes não sabes não sabes. E eu achas que sei o que preciso, achas que sei que a minha vida um caminho recto? Não sei meu amor, não sei mesmo porque me fazes isto, porque me voltas a fazer isto.
Por uma vez na vida gostava que as tuas duvidas fossem sobre os candeeiros da casa, os lençóis da cama e não sobre eu e tu juntos. Hoje o meu peito aberto, rasgado e desprovido de coragem, hoje eu apenas destroçado porque a pedrinha que segura os meus objectivos, o meu foco, ameaça cair. Puta de vida injusta a minha hein?
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
A insónia...
...finalmente chegou para mim. Havia momentos da minha vida onde duvidava de quem dizia dormir mal porque o trabalho não ajudava, porque os problemas não paravam, porque a consciência pesava. Alguns era da minha idade, outros mais velhos mais novos, e eu que dormia todas as noites de igual modo tranquilo recusava-me a acreditar que alguma vez seriam más as minhas noites. Desde que regressei parece-me que todas elas demasiado curtas e as poucas que foram longas demasiado irrequietas. Sinto dentro de mim que algo morre devagar, por vezes penso que sou eu por estar longe que estou a perder as minhas forças e a minha coragem de emigrante à boa moda portuguesa. Sinto que os medos profundos de outra hora se manifestam face a algumas impossibilidades do momento. O não posso a que respondo aos apelos de quem me ama, o não pode ser que recebo de resposta aos apelos que faço à mesma pessoa começam a preocupar-me, a deixar um rasto de destruição lá para trás, e agora os telefonemas mais curtos, as mensagens mais vagas e eu cheio de vontade de me desfazer em lágrimas pela sorte que por vezes nos vemos sem forças para mudar. Muitos e depois, muitas interrogações de como irá ser, como vamos fazer se, e eu olhando para uma vida ingrata que me permite estar afastado de todos que considero demasiado importantes para o estar, eu olhando para mim que me permito a tal luxo. E depois como vamos fazer, quando depois desta etapa outra etapa, quando depois desta proposta outra proposta que não se consegue dizer não. As férias que destroem a minha capacidade de aguentar a separação, que nos aproximam tanto tanto e eu ali no aeroporto a beijar-te, a dizer que passa num instante, a entrar no avião e a viajar tantas horas, a chegar à outra casa, não a verdadeira, apenas às paredes que me dão abrigo enquanto não me posso abrigar em ti, e a dormir, a acordar e apenas no dia seguinte me dar conta que não me afastei umas horas de ti mas toda uma vida novamente longe. E talvez não durma porque o trabalho me incomoda ou porque os problemas do trabalho não deixam, mas por vezes julgo que não durmo porque sinto em mim um problema que somos nós, não juntos mas nós afastados, o tempo faz apagar a paixão e o meu desejo desapareceu por completo. Sinto a inércia morna da água parada, sem continuidade, apenas estagnada. Sinto em mim uma desilusão com o que tenho e com o que sou porque há coisas que devem fazer-nos largar tudo e no entanto talvez por já ter sido tão sofrido este amor, eu não o consigo fazer-me largar a minha realização pessoal. Sou-lhe fiel, sou para esse amor o que devo ser, no entanto cada vez mais julgo que morre em mim um pouco mais dessa urgência do corpo e apenas o carinho me falta, o beijo, o abraço a ternura de tua pele e o fresco dos teus braços. Se eu contigo não faríamos amor hoje minha querida, apenas te ouviria respirar tranquila enquanto descansavas do teu dia de trabalho, e ai sim eu diria que a insónia seria de trabalho, ou então devida a um mau sonho que me fez acordar, e não nunca por estarmos longe porque isso apenas um sonho mau que ambos sonhámos em conjunto e que o tempo se encarregará de levar para um lugar escondido da alma, da memória, do corpo.
A minha insónia prolonga-se pela noite enquanto durmo e não consigo parar de pensar, enquanto me lavo pela manhã e nada na minha cabeça senão trabalho vida tu e por vezes apetece encher a banheira e colocar lá dentro a cabeça abrir a boca e gritar o mais que conseguir debaixo da água. Talvez assim algo de mim se libertasse e eu mais descansado, eu mais confiante que nós somos um único futuro, eu mais focado no que se precisa de fazer para ter esse futuro, eu cheio de coragem sentado no escritório do administrador a rasgar o contrato de anos que me entregou para assinar e a pedir que me desse antes um bilhete para casa. Eu assim forte e orgulhoso de mim enquanto chegava finalmente a ti que és a minha casa, e dela não gosto de me afastar.
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